Por Patricia Santin e Rodrigo Alvarez
Segundo a Universidade de Stanford, nos EUA, inovação social diz respeito a novas soluções para problemas sociais e ambientais, que sejam mais eficazes, eficientes, sustentáveis ou justas do que as soluções existentes. O valor criado pela inovação é revertido prioritariamente para o bem-comum (sociedade) ao invés de ser apropriado por indivíduos (privado).
Essas soluções podem se “concretizar” ou tornarem-se visíveis a partir de uma nova ideia, uma nova tecnologia, um novo produto, um movimento social, um processo, uma metodologia, um sistema, uma nova legislação ou uma combinação de vários desses elementos, que seja adotado e difundido em nossa sociedade.
Embora o tema da inovação social no Brasil tenha sido bastante associado ao campo dos negócios de impacto/negócios sociais, uma inovação social pode surgir em qualquer lugar – nas ONGs, no governo, numa empresa ou em um coletivo não formalizado.
Em geral, as inovações surgem nas intersecções entre esses setores, a partir de pessoas que ousam sair da zona de conforto para adentrar no campo de perguntas com respostas pouco óbvias: “Como produzir alimento dentro do nosso apartamento?”, “Como transformar a vida de crianças abandonadas numa vida digna, cheia de oportunidades?”, “Como acabar com o lixo das grandes cidades?”, “Como revitalizar o tema de direitos humanos na sociedade brasileira?”, “Como trazer os rios de São Paulo de volta a seu leito?”, “Como oferecer serviços públicos de qualidade para a população”, “Como os diversos tipos de organização podem se tornar espaços férteis para a inovação social?”.
Todas são questões de complexas respostas. Para construí-las, são necessárias paixão, humildade e engenhosidade.
Um recente artigo da Harvard Business Review resume desta forma a paixão: “Inovação nasce no coração, não na cabeça”. Só a força da paixão pode gerar a energia e o interesse capazes de lançar uma pessoa ou um grupo em um processo complexo, difícil e cheio de meandros.
A humildade nos ajuda a entender que, para problemas complexos, precisamos de respostas que deem conta dessa complexidade, incluindo vários olhares, várias perspectivas. É preciso “levantar da cadeira” e abrir mão do controle.
No dicionário, engenhosidade significa a qualidade que denota a destreza do inventor. Tem a ver com a capacidade de “desenhar” novas soluções, pensar o novo, olhar além para, a partir do que emerge da inteligência coletiva, criar novos desenhos, estabelecer novas arquiteturas e construir novos caminhos.
Estruturas inovadoras
A capacidade de inovação social também está muito ligada à maneira como as organizações se estruturam internamente, ou seja, o discurso para o mundo externo precisa estar refletido no dia a dia da instituição, precisa se materializar em práticas e estruturas de gestão que favoreçam essa inovação. Aqui falamos de alinhamento de valores, de trabalho com propósito, de confiança, troca. Em última instância, refere-se a cada um de nós como indivíduos, como cada um contribui para a mudança que queremos ver no mundo, quanto o nosso trabalho está alinhado com esse querer e como as organizações que criamos ou onde trabalhamos refletem tudo isso.
A inovação social passa por uma velha e conhecida discussão e talvez um dos desafios mais complexos de nosso tempo: a necessidade de quebrar padrões de isolamento, paternalismos, antagonismos ou concorrência e trabalhar de maneira a convergir os diversos setores. O futuro aponta claramente para uma diluição de fronteiras entre os três setores e o surgimento de novos arranjos sociais e econômicos, que serão tão bons quanto a nossa capacidade de transcender esses limites em nome de uma sociedade que celebre a vida, a igualdade de oportunidades, sendo ambientalmente equilibrada.
A inovação social tem essa vocação de conduzir a sociedade para modelos que recuperem nossa esperança, que apontem para uma nova conformação social.
Em nossas andanças temos visto que as organizações não governamentais brasileiras estão um pouco distante dessa discussão. Por isso, estamos interessados em entender como creches, asilos, entidades de educação complementar de adolescentes, entidades de atendimento de pessoas com deficiência, organizações comunitárias, ONGs de direitos humanos, hospitais filantrópicos, universidades sem fins lucrativos, ONGs ambientalistas, que tiveram um papel crucial na história da democratização do Brasil, se veem nessa discussão. Como a inovação social, para vocês, pode revitalizar esse setor que lida com temas tão importantes em nossa sociedade?
Por isso, fazemos um convite sincero a ONGs brasileiras: vamos pensar, juntos, como a inovação social pode contribuir com o seu trabalho?
Participe do evento “Ampliando o conceito e a aplicação da inovação social – Como o investimento social privado pode alavancar a inovação social?”, que realizaremos no dia 29 de março, na Semana de Investimento Social do GIFE, para debater este tema. Para saber mais e fazer a sua inscrição, clique aqui .
Patrícia Santin é sócia proprietária na consultoria estratégica Sementeira – Inovação Social e Desenvolvimento.
Rodrigo Alvarez é sócio proprietário da Mobiliza Consultoria